Instituto Gloria conscientiza sobre a violência contra a mulher por meio de artes que sofrem intervenções em Brasília   

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Murais de grafite com a proposta de conscientizar a sociedade sobre a naturalização de agressões contra a mulher chamaram a atenção do público na cidade de Brasília. As obras – criações das artistas Key Amorim (@keyamorim) e Ganjart (@ganjart3) – estavam disponíveis nas estações de Metrô Praça do Relógio e Águas Claras, respectivamente.  O trabalho faz parte da iniciativa “Não deixe ela virar paisagem”, realizada pelo Instituto Gloria em parceria com a Só Reparos.

Apesar da similaridade das artes, há uma diferença que singulariza o trabalho de cada artista: enquanto Key Amorim ilustra uma mulher negra, Ganjart desenha uma mulher branca. O objetivo é sinalizar que a violência doméstica não escolhe cor, etnia ou classe social. A iniciativa também contou com mobiliários urbanos espalhados pela cidade, com réplicas da artista Key Amorim, reproduzidas digitalmente. Já a figura da mulher representada por Ganjart foi projetada em alguns painéis da cidade, seguindo a mesma lógica do mural.

Durante cinco dias, quem passou pelas obras com o olhar mais atento teve a oportunidade de perceber a transformação das ilustrações femininas, de uma representação confiante e sorridente para semblantes tristes e inseguros, cujas mudanças representam diversos tipos de violência, como física, psicológica, patrimonial e moral. Ambos os grafites sofreram as mesmas alterações e todas as intervenções no Metrô aconteceram durante a noite, como forma de representar o silêncio muitas vezes existente em casos de violência contra a mulher.  Os mobiliários urbanos, igualmente, foram trocados durante a madrugada, com as mesmas modificações realizadas junto ao muro de sua estação correspondente.

Os grafites e a arte digital foram finalizados no dia 24 de novembro, revelando a seguinte mensagem: “Vários tipos de violência aconteceram nesse muro, mas muita gente não percebeu. Não deixe a violência contra a mulher virar paisagem. Denuncie. Ligue 180”. No mural, havia também um QR Code, que direcionava as pessoas para ver a transformação completa da obra em um sistema de realidade aumentada.

“Violência contra a mulher sempre esteve relacionada com processos culturais, ou seja, tão normalizadas que impactam na não percepção social. Tudo vira paisagem. E o reflexo desta aceitação é o aumento contínuo da violência contra nós, mulheres”, conta Cristina Castro, fundadora e CEO do Instituto Gloria.

A ação “Não deixe ela virar paisagem” surge em um momento agravante, em que o gênero feminino é a principal estatística do mapa brasileiro da violência. Só em 2022, foram registrados 1.437 casos de violência à mulher no País, um aumento de 6,1%, em comparação com 2021 – quando foram relatadas 1.347 situações de vulnerabilidade, segundo o Anuário do Fórum Brasileiro da Segurança Pública 2023. O feminicídio também foi um dos crimes que teve aumento de registros no último ano. Sete em cada 10 mulheres perderam a vida dentro de casa, sendo assassinadas por parceiros íntimos (53,6%), ex[1]parceiros íntimos (19,4%) ou familiares (10,7%).

A iniciativa é assinada pela Artplan e contou com a parceria do Metrô DF e da Só Reparos. A campanha continua durante os 16 dias de ativismo no combate à violência contra a mulher, com a parceria de vários veículos de comunicação, veiculando peças chamando a atenção para os tipos de violência.

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